Data: 20/04/2012
Ministra revela que negros ainda sofrem discriminação no país
D´Acelino entrega duas obras à ministra (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)
Durante a visita a Sergipe, nesta sexta-feira, 20, a ministra de Estado
Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luíza
Bairros, reconheceu que os negros ainda encontram dificuldades para ter
acesso ao ensino de nível superior, em especial, apesar do regime de
cotas ter sido instituído em algumas universidades brasileiras.
Para
a ministra, o Brasil conquistou avanços quanto à quebra do preconceito
racial, mas ainda é latente, na ótica de Bairros, a diferença entre
brancos e negros nos aspectos sociais e econômicos. “A população negra
experimentou, junto com toda população brasileira, um processo de
ascensão, mas ainda permanece a existência de desigualdades raciais
muito fortes”, observou. “Nós precisamos avançar no Brasil com as ações
afirmativas que é o único modo que vamos ter para fazer com que as
desigualdades raciais desapareçam”, opina.
Segundo a ministra,
ainda é perceptível que as pessoas mais velhas, entre os negros, têm
mais acesso às universidades públicas do que a população jovem. “Temos
algumas evidências relativas a questão da taxa líquida de matrícula no
ensino superior, por exemplo, temos uma diferença cada vez maior de
alunos brancos e alunos negros”, comentou, em conversa com o Portal
Infonet. “Significa que existe na comunidade negra um atraso do ponto de
vista da entrada na universidade. Entram mais as pessoas mais velhas”,
analisa a ministra.
Bairros admite que o Brasil ainda precisa adotar
medidas eficazes para que o maior número de jovens negros tenham mais
acesso à universidade e a saída está, no entendimento da ministra, no
sistema de cotas. “Temos tramitando no Congresso projeto de lei que
institui cotas para todas as universidades federais e institutos
técnicos e isto significa 50% das vagas das universidades e, dentro
disso, cotas para negros equivalentes ao percentual da nossa população
em cada estado”, explica. “Isto vai provocar um avanço muito grande no
nosso acesso à educação superior”, acredita.
Carinho
A
ministra Luíza Bairros aguardou o governador Marcelo Déda por algumas
horas para dar início à solenidade de lançamento do catálogo Religiões
de Matriz Africana em Sergipe e da Cartilha Pedagógica das
Religiosidades de Matriz Africana e da Promoção da Igualdade Racial
articulados pela Secretaria de Estado dos Direitos Humanos. O governador
chegou ao local do evento com quase duas horas de atraso.
Enquanto
aguardava o governador, a ministra conversou com ialorixás, babalorixás e
visitou a exposição de artes plásticas produzida por artistas
sergipanos que retrata a cultura afro. De Severo D´Acelino, presidente
da Casa de Cultura Afro Sergipana, a ministra recebeu duas obras da
literatura afrosergipana, de autoria do próprio D´Acelino: Panafrica –
obra lançada nos anos 1990 [poesia], e Mariow – lançado em 2002
[contos]. “São livros que tratam da diversidade, onde o matriarcado
convive com os menores abandonados”, explicou D´Acelino, no encontro.
Da
professora Leila Argolo, a ministra Luíza Bairros ouviu explicações
dando conta que em Aracaju a Escola Municipal Infantil Maria Clara
Machado já trabalha a cultura negra com os alunos há onze anos, desde
que foi criada. Cerca de dois anos antes de entrar em vigor a lei
10.639, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para
incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
temática "História e Cultura Afro-Brasileira". A lei em questão foi
sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 9 de
janeiro de 2003. “Ela ficou bastante feliz em saber disso”, contou a
professora.
A professora revela que o projeto naquela escola tem
surtido efeitos positivos entre os alunos. “Os alunos identificam com
muita propriedade quando sofrem o racismo”, informa Argolo.
A
ministra também conversou com o diretor-tesoureiro da OAB/SE, Sandro
Mezzarano, que representou a entidade no evento e justificou a presença.
“O papel institucional da OAB é a defesa da Constituição e, dentro
dela, está a defesa da pessoa humana, que passa pela promoção da
igualdade racial como forma de conscientização que a miscigenação da
raça faz do povo brasileiro um povo de tamanha singularidade”,
conceituou Mezzarano.
Cássia Santana
Portal Infonet
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