quinta-feira, 31 de maio de 2012

Projeto "Mulher, Educação e Identidade: Refletindo a participação da mulher negra na educação de jovens e adultos do município de Domingos Martins".

 1-   INTRODUÇÃO
O trabalho busca caracterizar-se como um Projeto Básico de intervenção em uma realidade local distinta, mais especificamente as Mulheres negras que participam das atividades da Modalidade de Educação de Jovens e Adultos do município de Domingos Martins, buscando a investigação e levantamento de indicadores de Gênero e Raça neste segmento de Ensino, de modo a obter dados que auxiliem na formulação de propostas de intervenção com esse público pela rede de serviços sócio assistenciais do município.
1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A INSTTUIÇÃO PROPONENTE
O projeto será desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação e Esportes, vinculada à Prefeitura Municipal de Domingos Martins, responsável por implementar e gerir programas educacionais, entre eles os relacionados à Educação de Jovens e Adultos, com o apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social, buscando levantar dados sobre a realidade das mulheres, em particular das mulheres negras, inseridas neste serviço, de modo a propor a superação de situações de vulnerabilidades que podem estar associadas ao analfabetismo, e que perpassam pelas questões de Gênero e Raça.

1.2 – JUSTIFICATIVA
Diante do desafio de propor intervenções no âmbito de questões relacionadas às desigualdades sociais, mais especificamente relacionadas às questões históricas e sociais que são geradas ou se mantêm a partir dos quesitos Raça e Gênero, e partindo da reflexão acerca da necessidade de Equidade de ofertas, serviços e propostas para os públicos historicamente segregados (HEILBORN, ARAÚJO e BARRETO (Org.) 2011), o presente Projeto busca iniciar a sistematização de indicadores no município, de modo a contribuir com a formulação eficiente de propostas que visam superar as desigualdades e garantir a equidade de oportunidades, partindo da Educação, mas se estendendo posteriormente a todas as esferas sociais.
Considerando a desvalorização histórica da mulher no campo profissional, este projeto objetiva trabalhar a partir do princípio da troca de conhecimentos proporcionada pela Educação, despertando o grupo para a busca de melhorias na qualidade de vida de sua família, sua comunidade e seu ambiente, a partir da reflexão e fortalecimento das noções de Direitos, Cidadania e Participação popular nas decisões.
Este projeto objetiva contribuir com a superação da exclusão/segregação social, a partir da Educação, buscando estabelecer os indicadores de Gênero e Raça, de modo a utilizá-los como ferramenta de formulação e execução de programas municipais que visam à superação de desigualdades e a inclusão social, resultando em melhor qualidade de vida a essas mulheres e suas famílias.
Considerando dados pesquisados, obtidos através do censo do IBGE 2010 tem-se que o número total da população do município de Domingos Martins é 31.847, sendo que o número de negros no município é de apenas 920 pessoas. Dessa forma compreende-se que a população do município é predominantemente branca devido às imigrações ocorridas a partir do século XIX principalmente por Alemães e Pomeranos.
O município de Domingos Martins possui, segundo dados do Censo, 12,8% da sua população acima de 15 anos, analfabeta. Como 80% da população vive em zona rural, podemos entender que é nesta região que se concentra a maior parte destes indivíduos.
Analfabetismo por faixa etária




Fonte: INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Censo 2000

Como se observa nos gráficos acima, o índice de analfabetismo em Domingos Martins é muito grande, principalmente na zona rural, que segundo a mesma pesquisa, apresenta índice de 15,4%.

Em entrevistas com algumas mulheres da área rural, pudemos coletar algumas informações bastante peculiares. A primeira delas é de que durante muito tempo, vigorou uma cultura onde a conclusão da 4ª série era o suficiente para a vida das pessoas, principalmente luteranas, pois era exigido pelos pastores para a confirmação. Sendo assim, muitos abandonavam os estudos.

Outro fator era a distância das escolas ou sua total ausência. Muitas mulheres relataram ser proibidas de estudar pelos seus pais, que as colocavam para levar marmitas até a lavoura e aprender os serviços domésticos ou justificavam sua ausência na escola com ideias do tipo: “para o cabo da enxada não é preciso saber ler e escrever”.

Nas nossas conversas iniciais, percebemos que a maioria das mulheres analfabetas, têm uma baixa autoestima, são envergonhadas, tímidas, muitas trazem falas prontas do tipo: “Burro velho não aprende mais...”. Nesse momento percebermos que  é essencial que haja uma motivação, uma injeção de ânimo, para mostra-lhes que são capazes de muitas coisas.
Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias. (FREIRE, 1983)

Temos ainda que apenas 3% da população consideradas alfabetizadas, em Domingos Martins, são negras, sendo que apenas 1% desse número são mulheres, conforme o censo. Dessa forma percebemos que o número de negros alfabetizados no município ainda é consideravelmente baixo se comparado ao número de brancos. E este dado se agrava ainda mais quando observado o número de mulheres negras alfabetizadas.

Por isso, o interesse em levantar dados sobre questões relacionadas a Gênero e Raça em um município marcadamente colonizado por etnias européias, associado à necessidade de se considerar as diversas etnias que hoje compõem o município, e que nem sempre são consideradas relevantes nos levantamentos de dados. Além disso, ao chamar a atenção para as questões de gênero, o objetivo é traçar um perfil das mulheres do município visando dar visibilidade e sensibilidade às questões de gênero, coibindo a violência, o sexismo e contribuindo para o empoderamento.

Aliando a perspectiva de Gênero e Raça dentro de um programa específico de inclusão a partir da Educação, pretende-se adquirir bases para a investigação de possíveis fatores que mantêm as desigualdades, levantar dados para análise e sistematização, e contribuir na formulação de políticas que contribuam para a superação de desigualdades.
A escolha do público – alvo deve-se à noção da Educação como base da promoção de igualdade, e consideração de que
“Mulheres com maiores níveis de educação e participação no mercado de trabalho estão, em geral, mais capacitadas para contribuir para a saúde e a produtividade de suas famílias e localidades, criando melhores perspectivas para as novas gerações”. (Heilborn, Araújo e Barreto, 2010, pg. 103).
Assim considerando, o levantamento de dados a partir das alunas matriculadas e cursando a Modalidade de Educação para Jovens e Adultos, e realizando concomitantemente o recorte de Raça será importante para a formulação de estratégias de superação das Desigualdades e promoção de Equidade em todas as esferas que compõe a Rede de Serviços Socioassistenciais do Município.

1.3 – OBJETIVOS
Levantar dados sobre as Mulheres Negras inseridas na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos do Município de Domingos Martins, possibilitando a construção de indicadores que poderão servir de base para o desenvolvimento de Programas e/ou Projetos que promovam a superação de Desigualdades.

1.4 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Verificar situações de evasão, desistência ou dificuldades escolares que podem estar relacionadas à questão de Gênero/Raça;

Comparar os dados obtidos no levantamento com os dados existentes na Rede de Serviços Socioassistenciais existentes no município, para verificar a inclusão destas mulheres em outros Programas e/ou Projetos assistenciais;

Incluir nos cronogramas de disciplinas oferecidas na EJA conteúdos relacionados a Direitos Humanos e Direitos da Mulher, buscando o fortalecimento das noções de Cidadania, de garantia de direitos fundamentais e promoção do Empoderamento.

1.5 - METAS / PRODUTOS / RESUTADOS ESPERADOS
Com o projeto almejamos buscar respostas para o alto índice de analfabetismo das mulheres negras no município, considerando os dados obtidos em relação a evasão, desistência e dificuldades apresentadas. Diante das respostas verificar se estes fenômenos ocorrem devido à questões de gênero e raça, a saber: patriarcalismo, machismo, violências, discriminação racial por partes da população branca, uma vez que é predominante no município, etc. 

Uma vez detectados tais fenômenos ensinar estas mulheres a se enxergarem como sujeito de direitos, transmitindo conhecimentos de Direitos Humanos e Direitos da Mulher, para elas possam se insurgir diante de alguma violência sofrida, não mais aceitando isto como “natural”, apresentando-lhes todos os mecanismos de defesa estatal existentes.

Através da Educação, propiciar o empoderamento destas mulheres para que possam se libertar do passado de dependência, subserviência e desigualdade historicamente legitimado em nossa sociedade.

1.6 - PÚBLICO – ALVO
Mulheres negras inseridas na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, moradoras de Domingos Martins.

1.7 - METODOLOGIA / ESTRATÉGIA DE AÇÃO
Trata-se de Projeto de Pesquisa Aplicada, onde se verifica a intenção e interesse em levantar dados para intervenção na realidade que se pretende alterar, a partir de abordagem quantitativa, para levantamento de dados utilizáveis para pesquisas e propostas de intervenção da realidade levantada; quanto à natureza dos objetivos, pretende-se realizar Pesquisa Descritiva, em forma de Levantamento e Estudo de Caso (GIL, 1996).

Para isso, o grupo pretende: assistir aulas, realizar entrevistas com as alunas-perfil, realizar a comparação de dados obtidos nesse levantamento com os dados existentes nos Equipamentos que compõem a Rede Socioassistencial, coletar de dados de localização de mulheres analfabetas nas áreas rurais de Domingos Martins, com o apoio dos Agentes de Saúde Municipais, realizar entrevistas com professores e equipe pedagógica que coordena as atividades da EJA, e sugerir a inclusão de conteúdos sobre direitos nas disciplinas oferecidas.

Para a execução de tal empreitada, buscar-se-ão parcerias com a Rede Sócio-Assistencial, a saber: Secretaria Municipal de Assistência Social, Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Municipal de Educação, Ministério Público, Polícia Militar e Civil, ONG’s, etc., existentes no município.

1.8 – PRAZO
12 meses.

1.9 – SUSTENTABILIDADE
Acompanhamento das atividades da EJA (de forma intensiva nos primeiros três meses e parcial nos meses seguintes) além de reuniões com as equipes da rede de serviços sócio assistenciais do município de Domingos Martins, Planejamento e avaliação das ações.

O projeto prevê início e término acompanhando os módulos oferecidos pela modalidade de EJA, podendo ser resgatado sempre que se iniciarem novas turmas, e os dados levantados podem ser traduzidos em novos projetos ou aproveitados pela gestão municipal de programas e serviços Socioassistenciais.

1.10        - DETALHAMENTO DOS CUSTOS
Segue abaixo custo aproximado do Projeto Mulher, Educação e Identidade:
Descrição
Quantidade
Valor
Papéis para impressão de formulários

1000

R$ 30,00
Caneta para preenchimento formulários

01 Caixa

R$ 30,00
Cartolina para a confecção de cartazes
80 unidades
R$ 80,00.
Lanche (Coffe Beack para eventos)
40 x R$ 9,00 por pessoa
R$ 360,00
Total
R$ 500,00

1.11 - DECLARAÇÃO DE CONTRAPARTIDA
Declaro, em conformidade com a Lei de Diretrizes Orçamentárias vigentes, que dispomos dos recursos financeiros ou bens e serviços economicamente mensuráveis, para participação na contrapartida ao repasse de recursos destinados a pesquisar a realidade das mulheres negras, inseridas na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos do Município (EJA) do município de Domingos Martins, de modo a propor a superação de situações de vulnerabilidades que podem estar associadas ao analfabetismo, e que perpassam pelas questões de Gênero e Raça, de acordo com as especificações do edital.
(Local e data)
___________________________________
XXXXXXXXXXX
 Secretária Municipal de Educação

1.12 - DECLARAÇAO DE ADIMPLÊNCIA

Na qualidade de representante legal do proponente declaro, para fins de prova junto à Prefeitura Municipal de Domingos Martins, para os efeitos e sob as penas da lei, que inexiste qualquer débito em mora ou situação de inadimplência com Tesouro Nacional ou qualquer órgão ou entidade da Administração Pública Federal, Estadual e Municipal que impeça a transferência de recursos oriundos de dotações consignadas nos orçamentos do Município, na forma deste Plano de Trabalho.

PEDE DEFERIMENTO,


__________________________________
Local e data

__________________________________
Proponente


APROVADO




__________________________________
Local e data


__________________________________
Proponente

2.0 – PLANO DE TRABALHO
Título: Mulher, Educação e Identidade
Instituição Proponente: Secretaria Municipal de Educação e Esporte
Município: Domingos Martins - ES
Endereço: Avenida Koehler, nº 116, Centro, Domingos Martins, Espírito Santo, Cep: 29260-000
Tel: (27) 3268-1806
Nome: XXXXXXXXX
Cargo: Secretária Municipal de Educação
2.1 - CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Meta Física
Duração
Junho a agosto de 2012
1ª etapa – Planejamento das ações e Contato com rede sócio assistencial (Apresentação do Projeto).

Ações
Planejamento das ações a serem realizadas ao longo do período de efetivação do projeto, bem como a apresentação do mesmo as equipes que da rede de serviços sócio assistenciais do município para a articulação das ações além de realizar um diagnóstico através do levantamento de dados sobre as alunas matriculadas na EJA.
Meta Física
2ª etapa - Levantamento dos dados das alunas matriculadas, Realização de entrevistas.
Duração
Setembro a dezembro de 2012

Ações
Acompanhamento dos encontros e atividades da EJA e realização das entrevistas a fim de promover a inclusão destas mulheres em outros Programas e/ou Projetos assistenciais.
Meta Física
 3ª etapa - Avaliação e levantamento dos registros das atividades para fins de estudo.
Duração
Janeiro a março de 2013
Ações
Preparar as formas de avaliação como questionários, com o objetivo de fazer um levantamento quanto a relevância do projeto.

2.2 - PLANO E APLICAÇÃO

O custo aproximado da implementação do Projeto “Mulher: Educação e Identidade” com a aquisição de materiais como folhas, canetas e lápis além de materiais diversos, visando a aproximação das condições ideais para a consecução dos objetivos almejados, obedecerá aos seguintes critérios:
Descrição
Quantidade
Valor
Papéis para impressão de formulários

1000

R$ 30,00
Caneta para preenchimento formulários

01 Caixa

R$ 30,00
Cartolina para a confecção de cartazes
80 unidades
R$ 80,00.
Lanche (Coffe Beack para eventos)
40 x R$ 9,00 por pessoa
R$ 360,00
Total
R$ 500,00

2.3 - CRONORAMA DE DESEMBOLSO

a) DO CONCEDENTE
O Projeto busca parceria com a Prefeitura Municipal de Domingos Martins, visando à contribuição financeira com os gastos referente ao material de consumo para execução do levantamento de dados e lanche para reuniões, sendo um total de R$ 500,00, podendo ser dividido em duas parcelas de R$ 250.

 b) DO PROPONENTE
A secretaria Municipal de Educação irá ceder o espaço físico para a realização do referido projeto, bem como os profissionais capacitados, além de computador e impressoras, dessa forma não será proporcionado nenhum gasto a instituição.

3 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra. 1983.
www.ibge.gov.br/.../pnad2001/coment2001.shtm: Acesso em 22/05/2012.

Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça I GPP–GeR: módulo I aV/ Orgs. Maria Luiza Heilborn, Leila Araújo, Andréia Barreto. Rio de CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres 2011.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3ª edição. São Paulo: Atlas, 1996. 159p.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Resultado da CPMI da Violência contra a mulher no ES: Estado não tem estrutura nas delegacias especializadas


Data: 11/05/12

Fotos: Tonico

Considerada a mais importante das audiências públicas realizadas pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência Contra a Mulher do Congresso Nacional, devido ao 1º lugar do Espírito Santo no ranking segundo pesquisa do Instituto Sangari, o debate ocorrido na Assembleia Legislativa capixaba nesta sexta-feira (11) priorizou a avaliação das atividades do Estado para prevenir, inibir e punir a violência cometida contra as mulheres.
A presidente da CPMI, deputada federal mineira Jô Moraes (PCdoB) e a relatora da Comissão, senadora capixaba Ana Rita (PT), disseram que o que mais preocupa no Estado, diante das diligências realizadas nos últimos dias, é a falta de estrutura física nas delegacias para atender às vítimas, o número insuficiente de profissionais qualificados e a falta de varas especializadas.
A senadora destacou que, mesmo com um conjunto de legislação importante que o Brasil possui para o enfrentamento do problema, como a Lei Maria da Penha, o número de casos de violência contra a mulher aumenta paulatinamente, talvez pela cultura machista e paternalista e, principalmente pela falta de políticas públicas para este enfrentamento, acredita Ana Rita.

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Solange Lube, Tadeu Marino, Genivaldo Lievore,
Sueli Vidigal, Jô Moraes e Ana Rita


Com relação ao posicionamento das autoridades capixabas, a senadora informou que percebeu que algumas medidas já estão sendo implementadas, mas que ainda existe omissão e descaso. “Por parte do Poder Executivo e do Poder Judiciário algumas medidas importantes estão sendo iniciadas, mas apelo ao Governo do Estado que olhe com carinho para essa realidade. Não podemos mais conviver com o Espírito Santo estando há 10 anos em primeiro lugar nesse ranking. Contamos com uma relação de parceria para podermos enfrentar isso, diminuir o número dos homicídios deve ser uma missão do Poder Público, mas também de toda a sociedade”, disse.
A deputada federal Sueli Vidigal (PDT), que também participa da composição da CPMI, disse que é com muita tristeza que vê o Estado ocupar essa posição no ranking nacional. Ela, que é autora do projeto de lei em tramitação no Congresso que prevê a abertura das delegacias regionais especializadas 24 horas para atender às mulheres vítimas de violência, disse que alguns avanços já são percebidos e citou o Programa JusMulher Capixaba, do Poder Judiciário.
A pedetista ressaltou que a Lei Maria da Penha é o instrumento que mais dá retaguarda a mulher, mas que outras ações devem complementar a legislação. Já o deputado Genivaldo Lievore (PT), presidente da Comissão de Cidadania e dos Direitos Humanos do Parlamento capixaba, acredita que a Comissão tem um papel importante de fiscalizar a aplicação da Lei Maria da Penha e as ações do Poder Público para reverter à realidade de estado que mais mata mulheres no Brasil.
Ao final da primeira parte da audiência, a senadora Ana Rita lançou três questionamentos ao Poder Público, representado por secretários de Estado, magistrados e membros do Ministério Público e Defensoria presentes à audiência: porque o Estado ocupa o 1º lugar no ranking de mortes violentas de mulheres; quais são as políticas públicas e qual o orçamento destinado para o enfrentamento da violência.

Pesquisa
O estado do Espírito Santo ocupa o 1º lugar em assassinatos de mulheres no País, de acordo com os dados do Mapa da Violência 2012, do Instituto Sangari. Segundo a pesquisa, no estado, a taxa de homicídios é de 9,4 por grupo de 100 mil mulheres. Entre 87 países, o Brasil ocupa a 7ª posição, com 4,4 assassinatos por 100 mil. A taxa capixaba é o dobro da média nacional.

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Mesa principal

Ausência de políticas públicas
A ausência de políticas públicas para o enfrentamento da violência cometida contra a mulher capixaba é a causa apontada pelos próprios agentes públicos do Estado para que o assassinato de mulheres aconteça em maior número no Espírito Santo se comparado a outros estados brasileiros.
A promotora de Justiça Maria Zumira Teixeira, que representou o Ministério Público Estadual, foi enfática o dizer que esta deficiência, que na opinião dela pode beirar a omissão, é o fator decisivo para que o Estado ocupe a primeira posição no ranking. O Ministério Público apontou que a falta de previsão orçamentária do Poder Executivo para o enfretamento da violência favorece os casos de violência que levam o Espírito Santo a ser visto de forma negativa na mídia nacional.
“Temos muitos avanços, mas também temos falhas. A implementação plena da Lei Maria da Penha precisa acontecer para que essa realidade seja outra”, falou, dizendo que a efetivação e cumprimento da Lei dependem das políticas públicas.
Já a juíza Hermínia Maria Silveira Azoury, que é coordenadora do Combate à Violência Doméstica do Tribunal de Justiça, falou sobre o papel da instituição ao JusMulher Capixaba, que é um programa de políticas públicas de defesa da mulher e contra a violência que conta com a parceria do Governo do Estado, municípios e com a colaboração dos movimentos sociais.
Unidades do Centro Integrado da Mulher foram instaladas e deverão estar funcionando em menos de dois meses. As unidades vão funcionar com a Vara Especializada em Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Delegacia da Defesa da Mulher e Promotoria Criminal da Mulher.
O defensor público Gilmar Alves Batista também mencionou a carência de políticas públicas, além da cultura machista e uso de drogas lícitas e ilícitas como causa do elevado índice de violência contra a mulher no Estado. “O Estado, diante da falta de políticas púbicas, não investiu no enfrentamento desta violência”, dizendo que a Defensoria criará 17 núcleos especializados de atendimento as vítimas da violência.

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Ana Rita e Henrique Herkenhoff

Ações
O secretário de Estado de Segurança Pública, Henrique Herkenhoff, admitiu os índices elevados de homicídios no Estado. Contra as mulheres, especificamente, o gestor da pasta de Segurança disse que o número de delegados e escrivães serão dobrados nas delegacias especializadas e que elas funcionarão 24 horas na Grande Vitória.
O secretário falou ainda que as políticas públicas passam também pelo conhecimento do problema. Admitiu que a Lei Maria da Penha é cumprida de forma irregular, até mesmo pela falta de efetivo policial, mas informou que uma Portaria foi baixada para que as autoridades policiais cumpram integralmente a Lei.
Já o secretário de Estado de Saúde, Tadeu Marino, acredita que faltam políticas públicas para enfrentar esta violência, mas questões culturais e sociais também devem ser levadas em consideração. Com relação à pasta, o secretário informou que uma rede de atendimento as mulheres vítimas da violência está funcionando e será ampliada.
“Grande parte dos hospitais atendem e não notificam os casos. Orientamos para que essas mulheres tenham assistência e não sejam também vítimas de preconceito”, falou, ressaltando que o Governo do Estado está trabalhando de forma integrada.
O secretário de Assistência Social do Estado, Rodrigo Coelho, entregou a CPMI um relatório com as sugestões da pasta para minimizar o problema. No documento, Coelho detalhou quando e onde estão sendo investidas verbas estaduais para o enfrentamento da violência contra a mulher. O secretário de Justiça Ângelo Roncalli garantiu um sistema carcerário especial para as mulheres e que não faltará vagas nas prisões femininas.

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Público lotou plenário e as galerias


Ao final da audiência pública, que durou mais de quatro horas, representantes da sociedade civil organizada deram suas contribuições à CPMI e cobraram uma posição do Poder Público estadual para tirar do Espírito Santo o título de estado mais violento para as mulheres.
Participaram do evento, que lotou o Plenário Dirceu Cardoso e as suas galerias, os deputados Gilsinho Lopes (PR), Luzia Toledo (PMDB), Claudio Vereza (PT), Solange Lube (PMDB), Roberto Carlos (PT) e Genivaldo Lievore. De Brasília, estiveram o senador Ricardo Ferraço (PMDB), a deputada Iriny Lopes (PT), o deputado Lelo Coimbra (PMDB), o deputado Audifax Barcelos (PSB) e a vice-presidente da Câmara Federal, Rose de Freitas (PMDB).

Daniella Sanz Ramos / Web Ales
(Reprodução autorizada mediante citação da Web Ales)

Fonte: Site da Assembléia Legislativa do ES.