sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O percurso do conceito de raça no campo de relações raciais no Brasil *

O Brasil é marcado e marcante por sua miscigenação étnico-cultural, oriunda da história de escravidão e imigração, que vieram somar aos diversos tipos de povos indígenas e colonizadores portugueses, gerando diversidade. No entanto, a mesma herança genética que se desenha nos corpos e na estética da diversidade se configura como legado de um passado de repressão, dominação e escravidão física, social e cultural para os descendentes das culturas indígena, mestiça e negra.
Inicialmente idealizado como um país acolhedor das diferenças, e rico por sua forma de respeitar a diversidade, o Brasil se tornou alvo de estudos internacionais que provaram que a realidade não é tão colorida quanto sua fauna e flora, mostrando que o país é racista e desigual.
Analisando historicamente, muitas foram as transformações pelas quais o conceito Raça, no Brasil, passou, incorporando ora estudos e teorias estrangeiras, ora pensamentos nacionais. Após a abolição da escravidão, pelo menos um milhão de negros foram libertos, sem que isso se configurasse em garantia de melhores condições de vida. Elevados à categoria de cidadãos, do ponto de vista jurídico, criou-se um impasse em relação à atitude a ser tomada em relação a eles, pois as teorias vigentes à época tratavam do racismo e da degenerescência dos povos de origem africana, através do quesito cor.
Isso se acentua a partir do fim do século XVIII e início do XIX, com a introdução dos meios de produção, que inauguram o sistema econômico do capitalismo. Para a população negra, o que poderia se configurar como oportunidade de trabalho e crescimento social acabou por se tornar novo mecanismo de segregação, com a vinda dos imigrantes europeus.
Preterir a mão de obra negra, neste período, foi afirmar e traduzir o pensamento biologizante e moral que dominava a sociedade da época. Trazendo resquícios das teorias de Degenerescência, criou-se a noção de Raças como hoje conhecemos, considerando não somente as características fenotípicas, mas as relações de poder vigentes à sociedade da época.
Estudiosos tentaram classificar e cientificar a noção de que alguns tipos de Raça eram superiores a outros, criando teorias e métodos de classificação que ficaram conhecidos como Racismo Científico, estabelecendo um padrão de Pirâmide, em escala vertical, onde haveria um topo (raça superior) e uma base (raça inferior). Essa organização não visava apenas promover a reflexão e estudos sobre Raças, mas justificar a dominação e manter o status da sociedade vigente, colocando o negro e o mestiço como servidores, inferiores e abaixo das possibilidades e padrões da sociedade, gerando um Determinismo Racial quase impossível de ser superado.
Apesar do vislumbre científico de um futuro pessimista para um Brasil mestiço, ou das tentativas falhas de introduzir métodos de embranquecimento da população a partir da miscigenação, que culminaria na “depuração”, ou seja, diluição do sangue negro pelo branco, não cessaram movimentos nem organização das comunidades negras lutando pela igualdade e fim do preconceito.
Fica claro que a distância social entre brancos, negros e mestiços ainda é grande, e tem origens históricas, sociais e culturais, bem como uma marcada diferença de oportunidades de equidade e igualdade de oportunidades. Apesar de avanços significativos, introduzidos com a apreciação de aspectos da cultura negra e assimilando-os à identidade nacional, muito há ainda a ser feito.
É importante uma reflexão mais profunda relacionada ao preconceito existente na sociedade contemporânea, exercido muitas vezes na forma de “Racismo Cordial”, conforme apontado por Florestan Fernandes e por Cleusa Turra, onde se nega o racismo, enquanto este é exercido de maneira silenciosa, em piadas, textos, comentários, e presentes sempre no “outro”.  

* Scheila Mara Marques é aluna do Curso de Pós-graduação em Políticas Públicas em Gênero e Raça – GPPGeR, pela UFES. A Atividade faz parte da Avaliação Final do Módulo III, Blogfólio.
 
Referência Bibliográfica:

Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP – GeR: módulo III / Orgs. Maria Luiza Heilborn, Leila Araújo, Andreia Barreto. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.

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