Trecho de Entrevista com Moradora da Comunidade Pomerana de Melgaço:
Entrevistada: Alderina Schroeder
"Meu pai conta que a avó dele veio da Pomerânia, junto com outros pomeranos. Eles foram praticamente expulsos da terra natal e vieram para o Brasil, há 150 anos. As dificuldades foram muitas, vieram pelo mar e quando chegaram aqui, tiveram que seguir caminhando. Tudo era mata, não havia estrada, o caminho foi aberto à mão. Tiveram que roçar e, para comer tinham que carregar coisas que duram mais tempo e não estragam facilmente, como farinha. Foi muito complicada e difícil a vinda para cá.
Os costumes são muitos, hoje aqui em Melgaço (distrito de Domingos Martins) ainda são bastante conservados. No Natal, por exemplo, nos reunimos com a família e nas igrejas, onde cantamos em pomerano e alemão. Hoje tem mais hinos em pomerano, porque estamos fazendo curso, e não tínhamos escrita. Atualmente temos o dicionário da língua pomerana e já aprendemos bastante coisa.
O meu pai morou em Domingos Martins até os cinco anos, e depois se deslocou para Pancas, junto com a família. Foram de tropa e levaram muitos dias para chegar . Morou lá durante muitos anos, conheceu minha mãe, que também é pomerana e se casaram. Os pomeranos, em geral, não aceitam se casar com pessoas de outras etnias, tem que ter descendência pomerana também para manter a cultura. Em Melgaço isso ainda se mantêm muito. Quando vem uma pessoa de fora, acham diferente e não querem aceitar.
Voltei a morar aqui com 11 anos. Senti uma certa dificuldade de falar o pomerano quando vim para cá, pois onde morava só me comunicava em português. Aprendi desde criança, mas não praticava muito, porque morava em uma comunidade onde não havia muitos pomeranos. Aqui praticamente ninguém falava em português e com a convivência fui me lembrando e consegui aprender o pomerano também na escola.
Conheci o meu marido aqui em Melgaço, ele também era pomerano e aprendeu o português comigo. Até então, tinha muita dificuldade em falar em português. O meu casamento não foi conforme a tradição. Casei durante o dia, na igreja, e depois apenas teve um almoço, porque meus pais não gostavam muito de dança.
A característica mais forte, que ainda se mantêm em minha família, é o dialeto. Quando estamos reunidos, todos falamos em pomerano. A Lainy , minha filha, não sabe tudo em pomerano, mas se expressa bem. Já o meu filho fala melhor porque conviveu mais com os avós, ficava mais junto com eles. Mas os dois sabem falar e estamos ensinando para o meu netinho, que tem dois anos. Pretendo que ele aprenda, ele já fala bastante. Peço até para a babá conversar com ele em pomerano.
Frequentamos a Igreja Luterana, pois também considero muito importante levar a família nos cultos. Além da língua, mantemos a culinária. Temos o pão de milho, os doces, o cashmere (queijo feito com leite coalhado, tira o soro, acrescenta nata e leite). Nas refeições, é utilizado para comer com pão."
Referências Bibliográficas:
Rangel, Aline; Rodrigues, Claudete. Diversos e Únicos: Etnias e Folclore em Domingos Martins. GSA Gráfica e Editora, 2009. (no prelo)
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